Consultório oftalmológico: a matemática da minha ancestralidade
O CC Matemática e Espaço vem sendo construído a partir de diferentes perspectivas históricas e socioculturais, que valorizam saberes nem sempre tratados com relevância no âmbito acadêmico.
Essa abordagem tem sido transformadora, uma vez que demonstra como a matemática sempre esteve presente no cotidiano de todos os grupos humanos, mesmo que desapercebidamente.
Percebo isso ao longo da minha história... Meus bisavôs maternos foram, durante toda a vida, agricultores de subsistência da zona rural. Não foram escolarizados, e não fizeram uso do relógio, pois aprenderam hereditariamente a se basear na posição do sol para contabilizar as horas do dia. Também calculavam o tempo instruídos pelas fases da lua: lua crescente indicava bom plantio, lua minguante designava um período inadequado para roçar ou podar a plantação e a lua nova indicava o momento ideal para cortar cabelos e fazer mudanças. Minhas avós contribuíram na culinária: receitas em várias quantidades, executadas apenas através do raciocínio intuitivo, sem o uso de unidades de medidas!
Em casa, minha mãe é uma crocheteira exímia, que aprendeu a técnica observando a tia fazer. Ela não lê os gráficos, nem segue fielmente as fórmulas de crochê das revistas: sempre aprimora da sua forma e acrescenta ou diminui pontos que julga serem necessários. Esse processo, entretanto, necessita de matemática a todo momento, uma vez que trata-se de uma reprodução criativa de padrões geométricos.
A matemática existente na vivência de cada um é muito relevante, e muito tem a contribuir com a aprendizagem.
A palavra "oftalmologia" literalmente significa "a ciência dos olhos". ME tem exercido um papel de médico oftalmologista na minha vida: tratar minhas deficiências de visão... Cuidar com delicadeza. Me impulsionar a ver com clareza. Hoje eu me enxergo enquanto sujeito ativo na produção de conhecimento. Não somente apreendo matemática. Eu também faço. Leonardo da Vinci soube disso muito antes de mim - que bom! - e deixou uma frase que representa bem esse momento de ressignificação: ''Os olhos são a janela da alma.''
''VER É PERCEBER COM A ALMA.
Ver não é simplesmente ver; não é simplesmente perceber com os olhos. Ver é perceber com a alma, com o espírito; é deixar-se envolver-se; é deixar-se cativar. Muitos são os que olham e nada veem, pois não se emocionam com o que as imagens representam. Veem fria e racionalmente. Não sabem, talvez, que é possível mudar a maneira de enxergar o que o mundo nos proporciona. Ou sabem, mas não se interessam por isso; estão tão acostumados com a frieza de seu próprio olhar perante as imagens que se lhes apresentam, que se negam a ver a beleza nelas contida.
Pode-se treinar o olhar, pois nunca uma mesma imagem representa a mesma sensação. Cada olhar é um fenômeno diferente do outro, mesmo que se olhe para o mesmo objeto no mesmo lugar, repetidamente.'' (https://www.bonde.com.br/colunistas/os-olhos-sao-a-janela-da-alma-e-o-espelho-do-mundo--136173.html)
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ResponderExcluirAmanda, como vc escreve lindamente! Amo seus textos, a maneira como as palavras fluem e parecem contos de abuelas de minha terra natal.
ResponderExcluirPor favor, não pare! Escreva, escreva, escreva...
Bjs, Prof Janna
Pró, ainda se eu dissesse mil obrigadas, não conseguiria expressar meu sentimento de gratidão por essas palavras da senhora! É de encher o coração. Com certeza não vou parar!! Obrigada <3
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