Especial África e Brasil: narrativas esquecidas
https://www.vix.com/pt/ciencia/545353/como-quando-e-por-que-brasil-e-africa-se-separaram |
Há mais de 200 milhões de anos, a costa oeste da África e o Brasil eram conectados. Entre nós não existia o oceano Atlântico e, portanto não havia praia no Brasil. Assim foi durante o período do supercontinente Pangeia.
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Com a ''dança'' das placas tectônicas, essas regiões rumaram em direções opostas e formaram esse resultado que conhecemos hoje.
O mar que nos separa é o mesmo que nos une: nos tempos modernos, cerca de 4,4 milhões de africanos o cruzaram compulsoriamente entre os séculos 16 e 19 em direção ao Brasil. Mulheres e homens de origem africana compuseram o que somos hoje. Mas o que houve entre nós não foi uma história de amor. O racismo, o silenciamento, o embranquecimento, a invisibilidade, a desigualdade... Muitos são os fatores que foram e continuam sendo os protagonistas dessa narrativa de sofrimento fomentada inicialmente pela maioria das escolas brasileiras.
Determinantes do nosso presente, as tradições, a cultura e a trajetória dos descendentes dos africanos escravizados compõem um objeto de estudo que por ser tão importante para os brasileiros, se materializou na lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e indígena em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. Entretanto, o que se vê são práticas escolares que se mostram insensíveis a essa premissa.
Com o intuito de problematizar esse comportamento e reafirmar a cultura afrodescendente, o CC ME trouxe através da Geometria Sona, a matemática de uma tradição africana.
Os desenhos da figura ao lado fazem parte de uma tradição milenar dos povos Cokwe, Lucazi e Ngangela, situados na região leste da Angola e na Zâmbia e República Democrática do Congo.
Na língua cokwe, cada um deles chama-se ''lusona'', que é o singular da palavra plural ''sona''. Nas línguas lucazi e ngangela, cada um se chama ''kasona'', e o plural se faz com ''tusona''.
Eles são geralmente feitos na areia e cada um conta uma história, que pode representar um mito, um enigma, um fato histórico, entre outros.
Figura 3 |
Figura 4 |
Observe que cada lusona parte do princípio da figura 3, e vai sendo construída através de de linhas que refletem como se as bordas do retângulo fossem espelhos, inclinando-se sempre num ângulo de 45º.
Mbinda |
O autor pode escolher suavizar quinas da lusona, como queira, para chegar ao visual desejado, como é o caso do antílope (Mbinda), comumente desenhado pelas crianças.
Logo surge um desafio: sempre utilizaremos apenas um único fio nessa confecção? A resposta logo chega através de uma lusona de 2 linhas (pontos na horizontal) por 4 colunas (pontos na vertical) Não! Em determinados casos vamos utilizar mais de um fio. E para descobrir quantos fios usaremos antes de desenhar, surge um raciocínio muito interessante: usar o Máximo Divisor Comum (MDC) entre as linhas e as colunas. Por exemplo, em uma lusona 2 x 4 (duas linhas por quatro colunas), utilizaremos 2 fios, uma vez que o número 2 é o MDC entre 2 e 4.
Minha produção Sona |
Eu achei que não teria a ''mão'' pra confeccionar uma lusona. Mas, por um minuto, me veio um bendito insight: ''está no meu sangue. Na minha descendência. Consigo sim!'' Aparentemente, deu muito certo!
Na imagem da minha produção é possível observar mais exemplos do MDC como determinante no número de fios, como na lusona número 7, duas linhas por duas colunas (2 x 2), MDC entre 2 e 2: 2. Logo, dois fios utilizados. lusona número 8, (1 x 5) MDC entre 1 e 5: 1. Logo, um fio utilizado.
REFERÊNCIAS
https://novaescola.org.br/arquivo/africa-brasil/
Artigo Areia Ancestral - Rogério Ferreira - Professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Investigador da etnomatemática, doutor em Educação e mestre em Matemática.
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