Memórias afetivas
Água, terra e sons. 3 elementos que compõem fundamentalmente as nossas vidas e dizem muito sobre nós. Foi partindo dessa perspectiva que fomos incumbidos de, em diferentes momentos, levá-los até a sala de aula. Começando pela terra...
Levei um punhado de terra do quintal da minha casa, e fiz o seguinte relato:
''Essa terra vem do meu lugar de paz, de memórias, de saudades: minha casa.
Se essa casa falasse, não tinha quem aguentasse! É muita história para contar. Toda a minha família já morou aqui. Há quase uma década, éramos 11 moradores, ao todo. Eu, minha mãe, meu pai, minha irmã, minha avó, minha bisavó, tios, primos... Por não ser uma casa enorme, não havia quarto nem cama suficientes para todos. Porém, dentro de uma convivência geralmente difícil, todos conseguiam se acomodar com algum conforto. Os finais de semana eram marcados por visitas dos outros integrantes da família, minha avó cozinhava muito bem e as refeições atraiam muita gente. Ela faleceu primeiro que minha bisavó, há 5 anos. Teve um câncer agressivo... Minha avó era o elo da família. Depois de sua morte, esse núcleo se desintegrou. Hoje, morando aqui, somos só eu e minha mãe. Uma casa vazia e silenciosa. Em nada parece com aquele ambiente de alguns anos atrás. Meus pais se divorciaram, minha irmã estuda em outra cidade. Essa casa tem mais ou menos 17 anos e, sendo assim, assistiu e abrigou todos os progressos e todas as lutas não só da minha vida, mas da vida de todo mundo que já passou por aqui. Já foi reformada e pintada de muitas cores. Foi, também, palco para muitas Páscoas, fins de ano, Natais, aniversários e reuniões. Já fui para muitos lugares e voltei para cá. Aqui tem amor, tranquilidade e um quintal grande (de onde eu tirei o potinho de terra) com umas galinhas e um cachorro, Bolota. Está longe de ser a casa dos meus sonhos, mas é e sempre será o meu lugar.''
Na próxima semana, levamos água. Eu levei a água da minha casa, mas gostaria que ela simbolizasse a água de Itapitanga, cidade onde meus pais nasceram e casaram, e onde eu cresci e vivi muitos momentos da minha vida, principalmente minha infância. Essa água me lembra a pureza de quando eu era criança, e dos laços que eu construí quando era criança.
Em seguida, levamos 1 minuto de sons do nosso cotidiano. Eu registrei muitas coisas que nem eu sabia que ouvia, e no final fizemos uma pequena ''sinfonia do cotidiano''.
Percebi não só com os sons, mas com todos os outros elementos, o quanto os pequenos detalhes passam desapercebidos em nossa vida tão corrida. Como é gostoso ouvir as vozes de quem a gente ama durante o dia. Como é valioso ter um pedacinho de terra pra voltar depois de uma jornada exaustiva. Valorizar cada coisa, cada segundo... Viver cada dia como se fosse o último.
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